domingo, 10 de janeiro de 2016

NORTE DO PARANÁ ( HISTÓRIA )

historiaehistoria.com.br-FOTO FARINA

As primeiras anotações surgiram com  a instalação da Colônia Militar de Jataí, em 1855. Devido à inexistência de uma comunicação terrestre com a província do Mato Grosso e a ameaça de uma possível invasão paraguaia, o Barão de Antonina conseguiu na corte do Rio de Janeiro a criação de uma colônia militar nas margens do rio Tibagi, realizando um trabalho de aproximação com o indígena. O aldeamento recebeu o nome de São Pedro de Alcântara, em homenagem ao Imperador e sua direção foi entregue ao Frei Timotheo Castelnovo. Em frente ao aldeamento indígena, foi fundada a colônia militar de Jataí (WACHOWICZ, 2010).
Durante a Guerra do Paraguai, o aldeamento e a colônia facilitaram a subsistência dos soldados. E os índios, exímios canoeiros, auxiliavam no transporte e na comunicação. Após o término da guerra, o plano de ligar o Mato Grosso com o mar, pelo território paranaense foi abandonado. Em consequência, a colônia Jataí não teve o progresso desejado. Emancipou-se em 1896, tornando-se o município de Jataizinho. Com o tempo o aldeamento indígena foi anexado à colônia. Esses dois núcleos foram os primeiros centros de colonização no norte do Paraná (WACHOWICZ, 2010).
A historiografia tradicional define a colonização do chamado Norte Velho como um prolongamento da cafeicultura paulista, implementada através da grande propriedade.[5] Baseando-se no fato de que, no final do século XIX, em decorrência do esgotamento do solo e de medidas restritivas ao plantio do café, fazendeiros mineiros e paulistas transpuseram o rio Itararé e ocuparam os vales dos rios Paranapanema, Cinzas e Jataí (WESTPHALEN et al., 1968; LUZ, 1997). Mas as estatísticas demonstram que, a expansão cafeeira ocorreu concomitantemente no norte do Paraná e nas regiões vazias para o capital em São Paulo. Visto que, entre 1920 e 1930, a produção cafeeira era muito pequena norte do Paraná, representando 2% do montante do país. Enquanto que, em São Paulo, as safras alcançavam 69% da produção nacional (TOMAZI, 1997).
Dados do Censo Agrícola evidenciam que, até 1920, predominava a pequena propriedade, sendo quase 2/3 do total dos estabelecimentos, que só detinham 16,8% da área total. As médias propriedades detinham quase 1/3 dos estabelecimentos, com 46,% da área. As grandes propriedades, acima de 1000 hectares, eram apenas 2,52% dos estabelecimentos e detinham 36,8% de toda a área. O que permite Tomazi (1997) afirmar que, até 1920, a (re)ocupação do nordeste paranaense se deu com base na pequena propriedade (devido ao número elevado de estabelecimentos) e com brutal concentração da terra, pois 8,27% dos estabelecimentos detinham 56,3% da área.
De acordo com Westphalen et al. (1968), desde o final do século XIX, quando o controle das terras devolutas passou para os estados, o governo do Paraná se preocupava em promover a ocupação e povoamento destas áreas.[6] Ao afirmar que o território estava desocupado e despovoado, estes e outros autores omitem a presença dos índios, caboclos e posseiros.[7] A ideia do vazio demográfico faz parte do discurso oficial, segundo o qual, povoar um território era torná-lo produtivo, ou seja, integrá-lo aos moldes do sistema capitalista (TOMAZI, 1997).
Como não possuía recursos para financiar uma política de imigração estrangeira para expandir a produção cafeeira e visava eliminar a ocupação ilegal e predatória do solo e das matas, o Estado promoveu a divisão em lotes e a venda a preços baixos, por intermédio de concessões a companhias particulares (PADIS, 1981). Em função da Lei n.º 1642 de 1916, as empresas poderiam receber concessões de até 50 mil alqueires e deveriam vender as terras, em pequenos lotes de 5 a 25 alqueires, em um prazo de oito anos, ao fim do qual, caso as demarcações não fossem realizadas, as áreas voltariam ao Estado[8] (TOMAZI, 1997). As grandes concessões feitas a particulares na década de 1920, eram uma das fontes de renda mais promissoras do Estado. Loteadas as terras, os impostos de transferência rendiam tanto quanto a produção agrícola (CANCIAN, 1981).
Entre estas empresas, destaca-se a Companhia de Terras Norte do Paraná, fundada em 1924, por capitais ingleses e vendida a um consórcio brasileiro, em 1944, tornando-se a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná.[9] Entre 1925 e 1927, a CTNP adquiriu 516.017 alqueires, por dez mil, cento e sessenta e quatro contos, setenta e nove mil, cento e vinte réis (LUZ, 1997). Conforme a CMNP (1975), a falta de vias de acesso contribuiu para que o preço das terras fosse fixado em 20 mil réis por alqueire. Preço equivalente à diária de um carpinteiro ou ao custo de cinco quilos de feijão. Na mesma época, as terras roxas de Ourinhos eram vendidas por um valor trinta vezes mais alto. Os documentos e publicações oficiais omitem os motivos da fixação dos preços em tão baixo valor, referem-se laconicamente ao preço da lei. Por traz destas negociatas estava o endividamento do país com os banqueiros ingleses (JOFFILY, 1985).
Em 1923, a Missão Montagu chegou ao Brasil, tendo em vista um pedido de empréstimo de 25 milhões de libras, solicitado por Arthur Bernardes a casa Rothschild. Seu objetivo era analisar a situação institucional e operacional de implementação das políticas monetária e fiscal que dessem garantias ao empréstimo (JOFFILY, 1985). Um dos integrantes da missão, o técnico em agricultura e florestamento, Simon Joseph Frazer, conhecido por Lord Lovat, veio ao Paraná a convite de um grupo de fazendeiros do Norte Velho, que buscava investidores para concluir a ligação ferroviária entre São Paulo e o Paraná. Os fazendeiros haviam adquirido concessões dos dois estados, no início dos anos 20,[10] construindo a estrada de Ferro Noroeste do Paraná, que se estendia de Ourinhos até Cambará, mas não dispunham de capital para expandir o trecho de 27 km. Mais tarde, a ferrovia passou a se chamar Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná e foi comprada pela CTNP (TOMAZI, 1997).
Impressionado pelas terras roxas, Lord Lovat adquiriu propriedades em São Paulo e no norte do Paraná, fundando uma empresa para atuar no Brasil, a Brasil Plantations Sindicate e uma companhia subsidiária, a Companhia de Terras Norte do Paraná (CMNP, 1975). Embora historiografia oficial sustente que, o objetivo pessoal de Lovat era plantar algodão, para suprir as indústrias de tecelagem na Inglaterra (LUZ, 1997; WACHOWICZ, 2010); ele estava a serviço dos Rothschild e não os abandonaria para tratar de assuntos pessoais. Logo, as terras adquiridas no Paraná deveriam lastrear supletivamente os débitos nacionais com os capitalistas britânicos (JOFFILY, 1985).
A área adquirida pela CTNP, situada entre os rios Paranapanema, Tibagi e Ivaí, era disputada por grupos antagônicos constituídos por posseiros, grileiros e possuidores de concessões outorgadas pelo Estado (TOMAZI, 1997). Segundo Hermann Morais de Barros, se não eliminasse essa contenda, ninguém teria coragem de comprar as terras. Assim, pagando até três vezes pelas terras, a Companhia assegurou a si e aos seus sucessores o direito líquido e inquestionável sobre a terra negociada (CMNP, 1975, p. 59). Grande parte dos autores reproduz a fala da Companhia:
Quando a CTNP adquiriu do Estado as terras devolutas, ela se comprometeu a indenizar todos aqueles que apresentassem títulos de propriedade, o que realmente foi feito. Alguns poucos posseiros encontrados foram removidos, sendo reassentados em outras áreas, sob a responsabilidade da própria Companhia. Face a esse saneamento, não houve conflitos de terras nos domínios da Companhia. Os conflitos que houve como o de Porecatu, por volta de 1950 estavam fora dos seus limites (CERNEV, 1988, p. 118).
Para Tomazi (1999, p.71), a ideia de que a CTNP reembolsou todos que apresentaram títulos de propriedade é uma pilhéria, porque os posseiros tinham enormes dificuldades em adquirir estes títulos e os caboclos nem se preocupavam com isto. Na realidade, a CTNP/CMNP, bem como outras companhias colonizadoras, utilizava-se de jagunços para sanear as terras compradas. Segundo Lopes (1986), entrevistas feitas com funcionários do Departamento de Terras indicam que, a CTNP possuía uma força policial particular que frustrava qualquer tentativa de permanência em suas terras.
A CTNP colocou em vários pontos de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, agentes que procuravam atrair compradores para as terras. Para acelerar as vendas, desenvolveu uma intensa propaganda com base no slogan: Certeza de lucro e garantia do direito de propriedade. Atraídos pela a fama do Norte do Paraná, terra onde se anda sobre dinheiro , milhares de migrantes vieram para a região em busca de trabalho e do tão sonhado pedaço de chão (LOPES, 1982). A historiografia tradicional explica fluxo migratório por intermédio da forma de transmissão da propriedade: divisão em pequenos lotes, vendas a prazo, taxas de juros reduzidas, preço relativamente baixo da terra, transporte e assistência técnica para os colonos (PADIS, 1981; LUZ, 1997).
Por ter vendido 40 mil lotes rurais, cuja área média era de 12 alqueires, a Companhia define sua ação como um exemplo pioneiro de reforma agrária.[11] Até os trabalhadores mais humildes, graças à divisão da terra em lotes pequenos e às condições módicas de pagamento, conseguiram adquirir seu pedaço de chão (...). E assim a democracia autêntica floresceu no Norte do Paraná, onde a iniciativa privada realizou uma verdadeira, justa e pacífica reforma agrária (CMNP, 1975, p. 150).
No entanto, dados referentes à aquisição de propriedades junto a CTNP demonstram que, a empresa recebeu, na sua quase totalidade, à vista, os lotes rurais que vendia. Sem contar que seus preços eram bem mais elevados do que os lotes vendidos pelo Estado.[12] O que evidencia que os compradores eram indivíduos com algum pecúlio acumulado (TOMAZI, 1997). Conforme as estatísticas apresentadas por Cancian (1981), já no ato de venda, houve uma significativa concentração da propriedade rural, pois quase 3/4 (72,81%) dos compradores possuíam menos de 1/3 (32,06%) do total da área e uma minoria expressiva dos proprietários tinha um grande volume de terras. Portanto, a área da Companhia não foi dividida igualmente em lotes de 12 alqueires.
Logicamente, existiam muitos fazendeiros na região da CTNP, incluindo os próprios dirigentes dela. Embora a CMNP e seus apologistas afirmem que, as linhas do empreendimento não se modificaram quando a CTNP foi transferida à gestão nacional (TOMAZI, 1989); houve uma reorientação no que diz respeito à divisão das terras em lotes, aumentando-se o seu tamanho em várias glebas, ao mesmo tempo em que se dinamizaram as vendas (Cancian, 1981). Segundo Tomazi (1997), a assertiva de que colonização da região resultou da repartição da terra em pequenas propriedades, é mais um dos elementos do discurso dominante, que busca diferenciar o Norte Novo, ocupado por pequenas propriedades, do Norte Pioneiro, colonizado pela grande propriedade.
Segundo Arias Neto (1998), a representação do norte do Paraná, como um exemplo de Reforma Agrária é criada quando se esgota o conteúdo das imagens do Eldorado. Processo que se inicia com as geadas de 1953 e 1955, que descapitalizaram os cafeicultores e mostraram ao governo brasileiro que não era mais possível manter um plano de desenvolvimento industrial baseado nos cambiais da cafeicultura. No decorrer da década de 1960, a cafeicultura foi sendo desalojada por novas atividades agropecuárias e industriais. E as ideias de Eldorado, de Nova Canaã, do pioneirismo, da riqueza fácil, da terra onde se anda sobre dinheiro foram se tornando histórias.
A CMNP se apropriou do discurso científico e promoveu um sensível deslize para legitimar seu empreendimento liberal, dispensando qualquer investigação de sua origem e dos fundamentos que o sustentam. Desta maneira, a ideia de plano racional de colonização preconizada por Monbeig, adquiriu o estatuto de fundamento do progresso. Progresso caracterizado a partir da vinculação de elementos chaves, onde o direito de propriedade está na gênese do plano racional de colonização, que instaurou uma democracia agrária no norte Paraná (Arias neto, 1998).
A Companhia justifica seu projeto imobiliário como uma uma missão de elevado interesse público (CMNP, 1975, p. 8). E silencia a presença do Estado no norte paranaense:[13] essa fabulosa região prosperou contando basicamente com a organização objetiva e dinâmica da empresa privada que a desbravou, e com a vontade de vencer dos que para ela afluíram atraídos pelas perspectivas de liberdade de empreendimento que se lhe apresentaram (CMNP, 1975, p. 146-148). Deste modo, cria uma espécie de mito em torno de suas ações. Tomazi (1989), explica que a função deste mito é o de internalizar valores e atitudes que visam sustentar a manutenção de uma estrutura social desigual e de uma estratégia de poder, sempre referida ao passado.
France Luz (1997) e outros autores afirmam que, o Estado imitou o modelo bem sucedido de colonização empreendido pela CTNP, passando a lotear suas terras devolutas em pequenas propriedades, a partir dos anos 40. Porém, vale lembrar que, desde 1916, várias leis que tratavam de terras dadas em concessão pelo governo, já determinavam que fossem ser repartidas em pequenas propriedades. Outras empresas, antes da CTNP,[14] já haviam feito este tipo de loteamento. Ademais, a legislação sempre beneficiou as empresas, evidenciando que os interesses das companhias e do Estado eram os mesmos. Por exemplo, quando o Decreto n.º19.688 de 1931 proibiu o plantio de café em todo país, a CTNP, a CFSP/PR[15] e o Estado uniram-se, conseguindo junto ao governo federal, que não a proibição não atingisse o Paraná. (TOMAZI, 1997).
Por fim, apresentamos o personagem mais famoso da História Regional: o pioneiro. O discurso oficial, ao se apropriar das imagens míticas do pioneiro como sendo o primeiro a chegar e o fundador, tenta transformar o passado de pequenos atos em fatos dotados de significados históricos (Almeida, 1995).
Por pioneiros, designa Romário Martins, os primeiros grandes proprietários que se estabeleceram na região de Jacarezinho. Para o historiador, o ethos do pioneiro misturaria o ímpeto do pionner norte-americano com o dos paulistas em sua conquista do sertão. Ele faz a apologia dos yankees brasileiros, netos de bandeirantes , raça de gigantes que dominaram e conquistaram o sertão agressivo e maravilhoso para o progresso e a civilização. Encontra-se neste autor, os principais elementos que a CTNP e outras companhias menores, de iniciativa privada ou estatal, instrumentalizaram em seu discurso colonizador (BENATTE; TOMAZI, 2011, p.144-147).
Desde o início do processo de (re)ocupação, tem sido apresentada uma galeria de personagens intitulados pioneiros , procurando-se enaltecer a figura de determinadas pessoas e colocar na ação de alguns indivíduos a causa da pujança regional (TOMAZI, 1999, p.74). No livro comemorativo do cinquentenário da Companhia foram publicadas as fotos dos pioneiros considerados mais importantes, como se fossem bustos, para nunca mais serem esquecidos. Portanto, os capitalistas ingleses, fazendeiros, diretores e funcionários da Companhia são considerados indivíduos especiais, que possuem visão antecipada da história (TOMAZI, 1989):
O próprio secretário de Lord Lovat Arthur Thomas está perpetuado em escultura de bronze, num parque municipal de Londrina, que também leva seu nome. Mais ainda: até poucos anos a cidade Mandaguari, era denominada Lovat . Este topônimo é mantido em um distrito de Umuarama. São os ingredientes da idolatria anglófila... Mal ingressa no curso primário, a criança londrinense aprende a cultuar as personalidades da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, cujos nomes figuram na fachada de quase todas as escolas. Seria enfadonho enumerar as infindáveis consagrações em ruas, avenidas e edifícios (...) (JOFFILY, 1985, p. 112).
Em contrapartida, os verdadeiros desbravadores, pequenos proprietários e trabalhadores sem terra não tem nome, nem memória (TOMAZI, 1989). São raros os estudos dedicados aos pioneiros autênticos, os pequenos agricultores que chegaram à região, atraídos pela imagem da Terra da Promissão e do Eldorado e pela promessa de lucro fácil e rápido, mas que tiveram suas trajetórias de vida marcadas por grandes dificuldades sócio-econômicas (Almeida, 1995). Praticamente nenhum dos capitalistas da Companhia se encaixa nesta descrição:
Pioneiros são os homens que veem na frente, descobrindo e destruindo obstáculos e preparando o caminho para a implantação da civilização. A chegada dos pioneiros nos sertões ínvios representa o início do progresso. O pioneiro vem para ficar, quando se desloca, já traz a família e os haveres quando os possui. (...) O pioneiro vem à procura de terra fértil, encontrando-a, planta sabendo que seu destino será chumbado àquela gleba, que com o passar dos dias se transforma em um lugar sagrado para ele e sua família. (...) não raro, só a morte o arranca da gleba por ele desbravada[16] (ZORTÉIA, 1975, p. 52-54).
Ao designar como pioneiros todos que vieram no início da ocupação, o discurso dominante oculta a diversidade de classe e transmite a ideia de que todos tinham os mesmos interesses e chances de progredir (TOMAZI, 1997). Deste modo, o papel que os migrantes estrangeiros e nacionais têm ocupado nos relatos fornecidos pela História Regional é o de meros coadjuvantes no processo (Almeida, 1995, p.38).
A maioria destes migrantes anônimos foi expulsa da região nos anos 70. As terras devolutas haviam se esgotado, cafeicultura entrava em decadência e o governo incentivava os programas de erradicação, que liberavam enormes contingentes de mão-de-obra[17] (SERRA, 1991). Estes trabalhadores rurais acabaram sendo atraídos por outro discurso que a afirmava que a Terra da Promissão encontrava-se um pouco mais além, no Paraguai, em Rondônia ou no Mato Grosso, construído pela propaganda de outras companhias colonizadoras que vendiam a mesma mercadoria: a felicidade e a riqueza. Mesmo assim, a historiografia tradicional silenciou as transformações na agricultura regional, procurando restabelecer uma realidade anterior pela simples narrativa, afirmando que a região continuava a ser um Eldorado (TOMAZI, 1999).
Bibliografia
ALMEIDA, Ana Maria Chiarotti de. A Morada do Vale: sociabilidade e representações, um estudo sobre famílias pioneiras do Heimtal. São Paulo, Tese de Doutorado, USP, 1995,
ARIAS NETO, José Miguel. O Eldorado: representações da política em Londrina (1930-1975). Londrina: EDUEL, 1998.
BENATTE, Antonio Paulo; TOMAZI, Nelson Dacio. As terras do Nordeste do Paraná segundo Romário Martins. In:Anais do II Encontro Regional GT Religião e Religiosidades da ANPUH PR/SC & da 40ª. Semana de História DEHIS/ UEPG. Ponta Grossa: Editora Aos Quatro Ventos, 2011.
CANCIAN, Nadir Apparecida. Cafeicultura paranaense (1900-1970). Curitiba: Grafipar, 1981.
CERNEV, Jorge. Liberalismo e colonização: o caso do Norte do Paraná. Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado, Universidade Gama Filho, 1988.
COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ. Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná. São Paulo: Ave Maria, 1975.
JOFFILY, José. Londres-Londrina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
LOPES, Ana Yara Dania Paulino. Pioneiros do capital: a colonização do Norte do Paraná. São Paulo, Dissertação de Mestrado, USP, 1982.
LUZ, France. O fenômeno urbano numa zona pioneira: Maringá. Maringá: Prefeitura Municipal, 1997.
PADIS, Pedro Calil. Formação de uma economia periférica: o caso do Paraná. São Paulo: Hucitec, 1981.
SERRA, Elpídio. Processos de ocupação e a luta pela terra agrícola no Paraná. Rio Claro, Tese de Doutorado, UNESP, 1991.
SOUZA, Éder Cristiano de. Os excluídos do café: as classes populares e as transformações no espaço urbano de Londrina, 1944-1969. Maringá, Dissertação de Mestrado, UEM, 2008.
TOMAZI, Nelson Dacio. Certeza de lucro e direito de propriedade. O mito da Companhia de terras Norte do Paraná.Assis, Dissertação de Mestrado, UNESP, 1989.
TOMAZI, Nelson Dacio. Norte do Paraná : História e Fantasmagorias. Curitiba, Tese de Doutorado, UFPR, 1997.
TOMAZI, Nelson Dacio. Construções e silêncios sobre a (re)ocupação da região Norte do Estado do Paraná. In: DIAS, Reginaldo Benedito; ROLLO GONÇALVES, José Henrique (orgs). Maringá e o Norte do Paraná: estudos de história regional. Maringá: EDUEM, 1999.
WESTPHALEN, Cecília Maria; MACHADO, Brasil Pinheiro; BALHANA, Altiva Pilatti. Nota prévia ao estudo da ocupação da terra no Paraná moderno. Boletim do Departamento de História. Curitiba: UFPR, n.º 7, 1968.
WACHOWICZ, Rui Christovam. História do Paraná. Ponta Grossa: UEPG, 2010.
ZORTÉA, Alberto João. Londrina através dos tempos e crônicas da vida.
São Paulo: Juriscredi, 1975.

[1] O termo (re)ocupação é tomado de empréstimo de Nelson Dacio Tomazi. Segundo Souza (2008), Tomazi define a colonização do norte do Paraná, como ocupação de uma região já ocupada. Ainda que os colonizadores tenham insistido na ideia de pioneirismo, de desbravamento de uma floresta inóspita e desabitada; este fenômeno foi constituído a partir de um processo violento de entrada em um território habitado por índios e posseiros. Com a expulsão destes habitantes e sua exclusão dos relatos sobre a colonização, consolida-se uma história dos vencedores através da ocultação da presença dos vencidos.
[2] Mestranda em História, pela Universidade Estadual de Maringá.
[3] Há uma reiterada identificação da região norte com a terra roxa. Discurso que parte da questão do solo para homogeneizar o social, o econômico e o político, silenciando a diversidade real. É importante conhecer os tipos de solo, para desmistificar a concepção de que estas terras estão entre as mais férteis do mundo. No Paraná existem dois grandes blocos de solo: os argilosos e os arenosos, estes de menor fertilidade que aqueles. Entre os argilosos encontram-se os solos derivados do basalto e entre estes há os mais férteis e os com toxidade (TOMAZI, 1997). No noroeste do Estado predomina o Arenito Caiuá.
[4] Até a década de 1950, circulavam em Londrina apenas três jornais: o Paraná-jornal, O Município e o Paraná Norte, que ostentavam páginas inteiras pagas pela Prefeitura ou pela CTNP (Joffily, 1985).
[5] Esta ideia consolidou-se devido ao discurso promovido pela CTNP, que visava demonstrar que o processo de comercialização de sua área era novo (TOMAZI, 1999).
[6] A Constituição Federal de 1891 transferiu o domínio das terras devolutas da União para os Estados. Em 1882, o Presidente do Estado do Paraná, Francisco Xavier da Silva, publicou a Lei n.º 68, sobre os serviços de registro, validação, legitimação, venda, aforamento, discriminação e colonização de novas de terras, por empresas nacionais ou estrangeiras (WESTPHALEN et al., 1968).
[7] Sobre os indígenas no norte do Paraná, ver: MOTA, Lúcio Tadeu; NOELLI, Francisco Silva. Exploração e guerra de conquista dos territórios indígenas nos vales dos rios Tibagi, Ivaí e Piquiri. In: DIAS, Reginaldo Benedito; ROLLO GONÇALVES, José Henrique (orgs.) Maringá e o Norte do Paraná: estudos de história regional. Maringá: EDUEM, 1999. A respeito dos posseiros, indicamos: PRIORI, Angelo. O levante dos posseiros: a revolta camponesa de Porecatu e a ação do Partido Comunista Brasileiro no Campo. Maringá: EDUEM, 2011.
[8] Em 1919 foram efetuadas várias concessões na região norte: a Corain e Cia e Leopoldo Paula Vieira, no município de São Jerônimo, a Augusto Loureiro, James Cody Terry e Percy James Allen, no município de Tibagi. Entre 1920 e 1921, em Tibagi, foram feitas as concessões a Jacob Petry e Cia., José Hauer Junior, Geniplo dos Santos Pacheco e a Antônio Alves de Almeida. Após a promulgação da Lei n.o 2125 de 1922; que diminuía o prazo de demarcação das terras para dois anos; foram cedidas em São Jerônimo, as concessões a João Leite de Paula e Silva e à União Cooperativa Humanitária do Brasil, depois transferida a Manoel Firmino de Almeida. Em Tibagi, a José Carvalho de Oliveira que passou a Casemiro de Souza Lobo; a Hacker e Cia. A maior das concessões foi a da Companhia Marcondes de Colonização, Indústria e Comércio S.A., nos municípios de São Jerônimo e Tibagi. Nas imediações de Paranavaí, foi feita uma grande concessão, denominada da Gleba Pirapó, à Companhia Brasileira de Viação e Commercio, que tinha outras reservas a oeste desta gleba, limitadas pelos rios Paranapanema e Ivaí (TOMAZI, 1997).
[9] Graças a uma conjunção de fatores: o governo nacionalista que vetava a propriedade de terras a estrangeiros e onerava, com impostos, capitais estrangeiros aplicados no Brasil; o decreto de 1939, que encampava a Ferrovia São Paulo-Paraná embora a transferência só fosse efetivada em 1944, quando as terras foram passadas ao grupo nacional ; e a venda de terras que não atingiu o esperado, somente 19,7% da área total adquirida pela CTNP, compreendendo 110.481 alqueires (TOMAZI, 1997).
[10] Nesta época, as relações comerciais e financeiras do norte do Paraná realizavam-se mais com São Paulo do que com Curitiba, graças a vários fatores: a ferrovia Sorocabana se aproximava da divisa com o Paraná; as condições de comercialização no porto de Santos eram mais satisfatórias e as casas comissárias de café lá estavam instaladas; havia muitos paulistas que tinham adquirido terras no Paraná e tinham ligações com casas bancárias que financiavam a produção e no Paraná inexistia um sistema adequado de transporte para escoar a produção (TOMAZI, 1997). Em consequência, Padis (1981) afirma que, a economia do norte do Paraná se desenvolveu de forma periférica e dependente do Estado de São Paulo.
[11] No início dos anos 1960, diante dos debates nacionais sobre a Reforma Agrária, a colonização empreendida pela CMNP foi citada pelo jornal O Estado de São Paulo, como modelo para se efetivar a ocupação de terras no Brasil (TOMAZI, 1989). Os depoimentos presidente da empresa, parte dos pressupostos do liberalismo clássico para criticar o intervencionismo estatal na questão agrária. Hermann Moraes de Barros defendia que, somente através de um plano de colonização, seria possível desenvolver uma reforma agrária racional, mantendo-se a livre iniciativa, o direito de propriedade e a lei da oferta e da procura. Cabendo ao Estado somente auxiliar onde sua presença fosse importante para consolidar a iniciativa privada (ARIAS NETO, 1998).
[12] As colônias estaduais tiveram uma grande procura, pelo fato de seus preços serem bem mais convidativos que os da CTNP e porque as terras eram de boa qualidade e inexploradas em culturas extensivas, como o café (TOMAZI, 1997). Em 1931, o preço mínimo de terras devolutas no norte do Paraná era de 43$560 o alqueire e poderiam ser vendidas por preços inferiores ao mínimo estabelecido. Os preços da CTNP variavam de 400$000 a 600$000 por alqueire (CANCIAN, 1981).
[13] O governo criou várias colônias no norte do Estado, como Içara (1941), Jaguapitã (1943), Centenário (1944), Interventor (1950) e Pagú (1950), na antiga concessão Alves de Almeida. E Paranavaí (1944), na antiga concessão dada à Companhia Brasileira de Viação e Commercio. Quase todas fazendo divisas com as terras da CTNP ou de outras colônias particulares (TOMAZI, 1997).
[14] A ideia inicial era vender terras para fazendeiros. Os ingleses só se decidiram pela pequena propriedade ao perceberem que auxiliariam na formação de pequenos povoados com mercados e, portanto, carga para a Estrada de Ferro São Paulo-Paraná (TOMAZI, 1997).
[15] Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná.
[16] Depoimento de Álvaro Godoi, um dos mais antigos e bem sucedidos fazendeiros do norte paranaense, político da UDN e um dos líderes dos movimentos de cafeicultores da região (Arias Neto, 1998).
[17] Os espaços liberados pelas lavouras cafeeiras foram sendo gradativamente ocupados por novas formas de cultivo, surgindo em primeiro lugar o algodão e em seguida o consórcio de culturas mecanizadas de soja e trigo e as pastagens plantadas. Ao contrário do café, que em todas as suas fases de produção era dependente de mão de obra braçal, os novos cultivos dispensaram o fator mão de obra, com exceção do algodão, o que fez aumentar o contingente de trabalhadores desempregados (SERRA, 1991).

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