terça-feira, 3 de maio de 2016

Como vencer a depressão?

O primeiro passo é reconhecer o problema

Leonid Pasternak (1913) - Reprodução
 

"Admitir o problema, buscar ajuda e encontrar um sentido na vida: três passos decisivos para superar a terrível doença"


Meus sete leitores perguntam qual foi o caminho que trilhei para vencer a depressão. Não dá para responder no espaço limitado de uma coluna, mas tentarei esboçar algumas reflexões nesta bela e fria segunda-feira. 

Desculpem dizer o óbvio, mas o primeiro passo é reconhecer o problema. A depressão se disfarça de outros males (físicos ou comportamentais) e às vezes até se apresenta como virtude ou qualidade (por exemplo, o talento artístico ou a sensibilidade emocional). Sem admitir que a doença existe e que ela é um mal, você continuará escravo de seus sofrimentos. 

Admitido o problema, deve-se procurar ajuda. Sei que isso também é evidente, mas tenho de dizê-lo. Se você não procurar o auxílio de outras pessoas, estará fazendo exatamente aquilo que o demônio da depressão quer: permanecendo no poço do egoísmo absoluto. 

A quem procurar? Basicamente a duas pessoas: alguém que você ama e um bom médico. Eles estão à sua espera. Quem mergulhou na depressão sabe que o mal tem duas faces: a existencial e a neuroquímica. O uso de um medicamento adequado, pelo menos por algum tempo, não é vergonha nenhuma e lhe dará forças para o principal desafio do depressivo: vencer o mal dentro de sua própria alma. 

O psiquiatra austríaco Viktor Frankl, que passou por Auschwitz e mais seis infernos nazistas, estudou o perfil dos sobreviventes dos campos de concentração e concluiu que eles tinham algo em comum: possuíam um sentido para a vida. O ser humano é capaz de vencer as piores formas do mal quando tem uma missão a cumprir, uma tarefa a realizar, um trabalho a concluir ou alguém para amar e proteger. Se a pessoa tem um interesse mortal pelo que faz ou deve fazer, será forte para suportar as piores provações. Deus costuma ouvir a prece de Dostoiévski: "Senhor, fazei-me digno dos meus sofrimentos!" 

Note-se que o sentido sempre se encontra fora e além do próprio indivíduo. A descoberta do outro — que o cristianismo chama de amor ao próximo — é fator essencial para a salvação. Quando o Padre José Kentenich, prisioneiro de Dachau, dividia a sua ração com os companheiros de infortúnio, estava salvando aos outros, a si mesmo e à sua Obra. 

Outro grande pensador do século 20, Eric Voegelin, dizia que ter uma "alma ordenada" é a melhor resposta que podemos oferecer a um mundo caótico. Devemos cultivar em nós mesmos uma alma que não tenha medo da verdade, da beleza e do bem — e da unidade que identifica esses três valores. O próprio Deus, uno e trino, nos oferece a imagem da ordem do ser. 

Sim, a religião é um poderoso aliado na luta contra o mal. Meu exemplo maior, no entanto, veio de uma pessoa não religiosa: meu pai. Não sei se Paulo morreu acreditando em Deus — ele era reticente quanto a isso —, mas o fato é que venceu a depressão por duas vezes, em 1973 e 1995, graças ao seu amor pela família. Hoje meu pai está em silêncio, mas acho que gostaria de ler estas palavras e saber o quanto ele foi importante para minha vitória. 

Fale com o colunista: avenidaparana@folhadelondrina.com.br
por Paulo Briguet

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